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Sem esperanças, em busca de respostas.

Fábio

17 de junho de 2018

Fabio do Prado - Membro Afirmação Brasília

 

E sou membro da Igreja SUD, desde os meus 14 anos de idade. Aos 20 anos servi uma missão de tempo integral na missão São Paulo Sul 200/2002, para ajudar na proclamação do evangelho restaurado do salvador Jesus Cristo. Eu acredito neste evangelho e isto não me faz melhor que outras crenças ou pessoas.

Antes mesmo de ir para uma missão eu já tinha conhecimento dos meus sentimentos em relação a minha sexualidade, eu acreditava que o Pai Celestial poderia me ajudar a vencer ou mesmo tirar este sentimento de dentro de mim, pois eu acreditava que isso seria possível e então poderia seguir em paz a minha vida. Minha missão de tempo integral foi muito difícil, tive experiências que me ajudaram a crescer e tive a certeza que minha vida pós missão também não seria nada fácil, mas digo com toda a certeza que faria tudo novamente, porque sempre a certeza da veracidade deste evangelho e do amor do meu salvador Jesus Cristo. Sempre uma conexão muito forte com meu Pai Celestial, minhas orações e sempre foram respondidas de imediato. A possibilidade de não poder voltar a ver o salvador Jesus Cristo um dia me assustava e me entristecia.

Na minha última entrevista com o presidente de missão antes de voltar para casa, eu decidi contar algumas coisas que ocorreram comigo na minha adolescência, sobre a minha sexualidade. Ele me aconselhou que eu deveria conversar com os meus líderes, quando chegasse em casa. Percebi em seu semblante uma mudança, um ar de decepção. Cumpri honrosamente meus dois anos e mais um mês de missão dignamente, que jamais esquecerei. Quando cheguei em Brasília fui batido pelo meu bispo, percebi que ele estava sabendo da conversa que tiva com o meu presidente de missão na noite anterior. Do aeroporto ia direto para a sede da estava, onde o presidente da estaca, já estava me aguardando e também já tinha conhecimento da conversa. Na entrevista para desobrigação como missionário foi decidido que eu iria passar durante um ano por um período probatório, sendo que eu não tinha tido contato íntimos com outra pessoa do mesmo sexo.

Este período foi muito difícil para mim, ir cada domingo a igreja e não poder falar e nem expressar meus sentimentos e ainda ver aquelas pessoas com olhares de julgamento, como se eu tivesse cometido um crime. Por me sentir inútil e sem poder expressar meus sentimentos, aos poucos fui deixar de ir a uma igreja, mas nunca deixei de orar e jejuar para que o Pai Celeste, tirasse estes sentimentos de mim e não sentisse mais atração pelo mesmo sexo. Foram mais uns 2 a 3 anos frequentando minha ala em Formosa - Goiás, ouvindo piadas e olhares que me deixavam envergonhado. Com toda esta pressão fui praticamente obrigado a namorar uma moça, que até me chamava a atenção, mas não corrige ter uma relação sincera com ela, então decidi terminar este namoro, o que fez aumentar os falatórios e desconfianças a minha sexualidade. Muitas vezes minha mãe me via chorando e me perguntava o porque. Mas nunca tive a coragem de contar a ela o verdadeiro motivo da minha tristeza.

Foi então que uma irmã que vivia em outra cidade Belo Horizonte - Minas Gerais, convidou-me para ficar com ela alguns dias, para ver se eu iria mudar. Orei muito ao Pai Celeste, jejuei e pedia ao Pai que me ajudasse a encontrar uma esposa e casar e ter filhos. Já na cidade da minha irmã, voltei a frequentar a igreja, na ala tinha um rapaz que também era de Goiás e logo nos tornamos amigos. Este rapaz me produz muito, até me arrumar um emprego em sua empresa. Com o tempo descobrimos que nós dois tínhamos os mesmos sentimentos em relação a sexualidade, foi ai que vi não não poderia mais esconder quem realmente eu era. Foi nesta época que ouvi falar pela primeira vez na Afirmação, que havia mórmons gays e que eu não era o único, isso me deu força. Decidi então ligar para minha mãe e contar para ela sobre a minha homossexualidade, ela somente me disse que me amava, ouvir isso foi muito importante para mim, então aos 24 anos isso foi libertador, e começava aí um novo episódio na minha vida. Minha mãe perguntou se ela poderia contar para os meus irmãos, eu disse que poderia, no dia seguinte comi a receber muitas mensagens, ligações e até a visita da minha irmã no meu trabalho

Fiquei mais dois meses morando com minha irmã, até decidir voltar a minha cidade, onde senti a dor da rejeição e o preconceito, que se diziam meus amigos e até mesmo dentro de minha família. Como foi complicado fazer a rejeição, por aqueles que se dizem amigos e frequentavam a mesma fé e se acham superiores simplesmente por eu ser quem sou, um mórmon gay.

Quem viveu ou vive este evangelho sabe o amor que temos e os sacrifícios que fazemos por ele. Quem serviu missão ou serviu na igreja, sabe o porque deixamos como coisas do mundo, para servir uma missão de tempo integral, que é servir ao Salvador e ao próximo. Eu sei que os pilares da igreja são perfeitos, os hinos e as músicas são maravilhosos e nos tocam profundamente. Existem sentimentos que são inexplicáveis. Talvez para quem não é membro da igreja SUD não entenda os nossos sentimentos e amor por este evangelho, por isso é tão doloroso estar longe das ordenanças e também de poder compartilhar nosso conhecimento e servir na igreja.

Os poucos amigos que eu tinha na igreja, foram me abandonando pouco a pouco, meu maior medo se tornou uma realidade, a solidão. Muitas vezes temos a vontade de brigar com o Pai Celestial, deixei de fazer minhas orações, por não sentir mais a sua presença ao meu lado. Hoje aos 38 anos de idade, tenho sentido um vazio imenso, criei uma casca, um bloqueio. Muitos dizem que sou frio e seco, mas ninguém sabe o que vivi e passei par me tornar esta pessoa.

Quando decidi ir para uma conferência da Afirmação em São Paulo, não imaginava o que poderia encontrar por lá. Confesso que janela tentaram me fazer desistir. Como passo a maior parte do meu tempo ocupado, achei que indo à conferência iria gastar meu tempo e dinheiro. Ao chegar no local onde foi realizada uma conferência, a primeira coisa que disse para o Luiz Correa: “Nossa parece até que eu vim me encontrar com Jesus de tão longe que é este lugar, pense que não chegaria mais, sorrimos um para o outro .

Eu mal poderia imaginar que realmente estava ali para reencontrar o meu Salvador e fazer as pazes com Deus. Comecei a perceber como o lugar era lindo e de uma tranquilidade, aos poucos fui conhecendo um a um, imediatamente já me senti aceito e me lembrei da família que perdi na igreja. Por alguns momentos, segurei como lágrimas, porque ainda estava ressentido com Deus.

No domingo o último dia de conferência, eu já acordei sentindo algo diferente, domingo me lembra muito as reuniões da igreja. O salão da conferência me lembrava muito a capela, então como discursos, palestras e testemunhos foram demais para mim, por muitos momentos que sair da sala do tanto que me emocionei. Cada um que ia até mim, me consolar eu chorava mais ainda, queria muito poder falar a todos que estava, muito grato por estar ali naquele local e por me ajudarem a resgatar a minha fé no Salvador e meu amor pelo Pai Celestial, mas não tinha condições para falar, só há chorar. Como foi maravilhoso, gratificante, mágico estar com todos, minha nova família, meus novos amigos. Foi tudo tão espiritual, foi renovador e me fez ter esperança no amanhã.

 

Sou imensamente grato pelo convite feito pela presidência da Afirmação (Cristina Moraes, Jean Carlos e Luiz Correa), obrigado a cada um pelo abraço que recebi. Espero poder servir e ajudar a Afirmação, no seu crescimento aqui no Brasil, pois sei que ainda existem muitos mórmons LGBT que estão perdidos e solitários, esperando por um abraço amigo e verdadeiro, como os que eu recebi.

 

CONVIDO A TODOS AQUELES QUE AINDA NÃO FORAM A ESTAREM APRESENTA EM NOSSOS PRÓXIMOS ENCONTROS, PARA QUE ESSA FAMÍLIA TRAGA DE VOLTA A LUZ EO CALOR A AQUELES QUE COMO EU SE SENTIA SÓ E SEM ESPERANÇA ”.

 

“OBRIGADO A CADA UM QUE CONHECI E SAIBA QUE PODE CONTAR COMIGO”.

 

 

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